Páginas

domingo, março 29, 2015

CT Paraíba, o Naufrágio Carioca.



O mergulho em naufrágios é sempre um mergulho diferenciado. Especial pelos cuidados necessários; romântico, por suas histórias (quando ainda navegando), e mágico, em virtude de toda a vida que aflora a cada centímetro visitado. Cada um tem sua magia, seus encantos. Não é diferente quando falamos do Contra Torpedeiro Paraíba - D 28 ou simplesmente CT Paraíba.

Construído pelo estaleiro Avondale de New Orleans, em dezembro de 1965 o navio da classe Garcia passou a integrar a esquadra americana (U.S.Navy) sendo comissionado como Destroyer Scort 1045 na Carolina do Sul. Foi batizado U.S. Davidson em homenagem a um oficial de destaque da marinha americana durante a 2ª grande guerra. Em abril de 66 o U.S. Davidson passou a servir no porto de Pearl Harbour. Nos nove anos seguintes passou a operar como suporte de artilharia naval no Vietnam e sudeste Asiático. Sua especialidade foi o combate a submarinos. 
A excelência de seus artilheiros rendeu-lhe inúmeros prêmios e condecorações. Em 1988 encerrou sua carreira nos Estados Unidos. Em abril de 1989 passou junto com três outros “irmãos” da classe Garcia, a integrar a Marinha Brasileira. Em dezembro deste mesmo ano aportou no Rio de janeiro, já com seu novo nome, Contra torpedeiro Paraíba. Sua baixa ocorreu no ano de 2002, permanecendo no arsenal de marinha até que em 2004, após ter sido arrematado em um leilão para desmonte por uma empresa Liberiana, acabou naufragando durante seu reboque para a cidade de Aland/Índia.


O CT Paraíba encontra-se naufragado próximo às ilhas Tijucas, em profundidades entre 54m e 39m (sua antena). À exceção de sua proa, que se apresenta torta à boreste, em virtude do impacto com o fundo, sua estrutura encontra-se íntegra. Canhões, lançadores de mísseis e torpedo e o seu hangar são uma atração especial para os mergulhadores técnicos que se aventuram neste mergulho. Bastante inclinado, com algumas portas abertas e suas antenas destacando-se nas partes mais rasas, 40m, este mergulho deve ser cuidadosamente planejado em virtude da grande quantidade de cabos, linhas de pesca e uma rede de arrasto presa ao navio (o que assombra esta aventura).

Minha primeira ida ao CT Paraíba, como não podia deixar de ser, foi
coordenada pelo Comandante Basílio, um especialista neste naufrágio com mais de 60 mergulhos logados somente no local. O apoio técnico ficou a encargo da equipe da Divers Quest, operadora carioca com mais de 15 anos de experiência no mercado. Nosso deslocamento, nesta mega operação de 12 mergulhadores, foi realizado por duas embarcações. Cilindros, lastros e demais equipamentos foram levados da marina da Glória até o local pelo “Velho Marinheiro”, enquanto nós, mergulhadores, partimos cerca de duas horas depois, a bordo na Anakin, embarcação do Cmte Basílio que vem operando os mergulhos no local.


A 22 nós de velocidade, em um dia de “mar de almirante”, vivemos 45 minutos de espectativa após um detalhado briefing, ilustrado com croquis e fotografias de um irmão gêmeo do D 28.

Analisamos o diagrama do navio tentando imaginá-lo em uma inclinação superior a 50º.  Fomos alertados para o perigo dos cabos, linhas de pesca e de uma enorme e medonha rede de arrasto perdida por um navio pesqueiro há alguns anos. Nosso Comandante, em virtude sua experiência em navegação e familiarização com o local, ferra, sempre na primeira tentativa, onde quer. Ele nos disse que poria o ferro mais para a popa e prometeu o hélice e o hangar como atração principal.


Com o auxílio do Marcão, seu marinheiro, estávamos prontos para o mergulho. Devidamente equipados, munidos de cilindros duplos, computadores, facas, lanternas, deco marker, carretilhas e stages de EAN 40 (como travel gas) e paradas descompressivas mais fundas e O2 para aceleração da descompressão nas paradas aos 6m e 3m, lançamo-nos dois a dois rumo ao mais deslumbrante mergulho em naufrágio na costa carioca.


Em pouco mais de dois minutos, com uma sorte muito grande, o que encontramos foi uma água extremamente clara, roxa, e visibilidade deslumbrante. Já do cabo de descida se podia ver o naufrágio em toda magnitude de seus 127m de comprimento. Nossa visibilidade, inexplicavelmente, beirava os 20 metros e surpreendentemente a corrente no local era pequena. Cabe ressaltar que estas não são as condições normais deste mergulho que costuma apresentar baixa visibilidade, às vezes 2m, e muita correnteza.



Mas o Grande Arquiteto do Universo, neste dia, estava com vontade de nos premiar e junto a tudo isto ainda nos mandou um grande cardume de enxadas, mais de 300, e outro de badejetes, um deslumbre...





O naufrágio é deslumbrante, sua estrutura intacta tira-nos da realidade induzindo-nos a uma inebriante viagem durante os 30 minutos de fundo que nosso planejamento nos permite. Aos 28 min, sob o comando de nosso sicerone partimos em direção ao cabo, rumo aos nossos próximos 40 minutos entre subida e descompressão. Foi com um misto de tristeza e satisfação que abandonamos esse monumento submerso, uma sensação que, infelizmente, poucos ainda estão capacitados tecnicamente a experimentar...


Como era nosso dia de sorte, aos 3 metros, em nossa última parada (cerca de 16min) uma rêmora perdida, juntou-se a nós, circundando-nos a poucos centímetros insistentemente, como se quizesse grudar em nossos trajes...

De volta a Anakin, Marcos Adriano, o marinheiro, nos assessorou no recolhimento do equipamento e subida na embarcação. Pronto, só nos restou apreciar a viagem de regresso, comentanto os vistos e os não vistos detalhes do CT, premiando este feito com um almoço no Iate Clube Rio de Janeiro.


Missão cumprida e a certeza de que deste dia em diante, será difícil recusar o semanal convite de retorno ao CT Paraíba à bordo da Anakin.



:.Paulo Cid
Instrutor PADI #240096

Fotos: Cmte Basílio e Paulo Cid



Nenhum comentário:

Postar um comentário